Quiet Quitting é um conceito do mundo do trabalho que reflete a mentalidade de executar o mínimo necessário e estabelecer limites entre a vida pessoal e profissional. Ao contrário do que pode parecer pela tradução livre da expressão, para “demissão silenciosa”, o termo não está necessariamente relacionado com um processo de desligamento.
Este movimento pega carona na “grande renúncia” e busca fazer um contraponto à chamada “geração burnout” e ao “Workaholism”, que é o vício em trabalho. Durante a pandemia de Covid-19, muitas pessoas foram levadas à exaustão física e/ou mental por conta do acúmulo de tarefas e atividades laborais.
Estresse, ansiedade, mensagens à noite ou nos fins de semana, ausência de limites entre o que é a casa e o que é o trabalho. Muitas pessoas devem se identificar com esses desafios, e é contra isso que o Quiet Quitting se manifesta.
Agora você deve estar se perguntando: mas e o que o Quiet Quitting tem a ver com o RH? Bom, na verdade, tudo. O comportamento de se limitar a fazer apenas o que se é contratado dentro do horário específico da sua jornada de trabalho pode ser visto como desengajamento ou desmotivação. Além disso, outros sinais no dia a dia também podem contribuir com essa percepção, como atrasos, faltas ou entregas aquém do usual.
E isso preocupa os RHs, pois profissionais desengajados e desmotivados podem chegar a um limite e pedir desligamento a qualquer momento. Podem também estar ativamente pesquisando por outras vagas ou realizando processos seletivos e, assim, a empresa corre o risco de perder este profissional sem estar preparada para absorver as atividades que ele executava ou repor a vaga de imediato.
Vale destacar que uma coisa não está obrigatoriamente relacionada à outra. Muitas vezes, um quiet quitter está bem e interessado em permanecer no seu trabalho, só não quer que a sua vida se resuma a ele, e sim busca por um equilíbrio. Por outro lado, pode haver colaboradores que, de fato, estejam desmotivados e buscando outras oportunidades, mas não é uma regra.
O RH precisa ser capaz de identificar o que está por trás do comportamento de cada colaborador e se antecipar a possíveis casos críticos. Continue a leitura deste artigo para conhecer mais sobre o movimento de Quiet Quitting, e também saber como o RH pode ser preditivo com o apoio de tecnologia para uma gestão humanizada.
Quiet Quitting: o que está por trás deste movimento
O termo Quiet Quitting foi mencionado pela primeira vez em um simpósio de Economia no Texas, Estados Unidos, no ano de 2009. No entanto, foi por conta de alguns fenômenos como a pandemia, a “grande demissão” e o TikTok que o conceito ganhou maior repercussão no Brasil.
Pandemia de Covid-19
A pandemia de Covid-19 foi o pontapé para provocar reflexões nas pessoas sobre o universo do trabalho, que depois levaram à popularização do Quiet Quitting. Com o isolamento social determinado para evitar a circulação do vírus, muitas empresas fecharam suas sedes e os colaboradores passaram a trabalhar de casa.
E isso gerou um aumento significativo de problemas de saúde nas pessoas, por conta da dificuldade de estabelecer limites entre o trabalho e a vida pessoal. Casos da Síndrome de Burnout, por exemplo, que é um esgotamento físico e mental causado pelo trabalho, cresceram exponencialmente durante este período.
Em casa, você tem a possibilidade de estar conectado a todo momento, não conseguindo separar os momentos de lazer do profissional. Com isso, a sobrecarga de trabalho tornou-se uma constante, e as listas de tarefas aumentavam a cada semana, dando a sensação de que nunca se daria conta de executar todas elas.
Muitas vezes, no home office, as pessoas sentem uma cobrança maior, se sentem pressionadas a mostrar que estão presentes e produzindo para garantir sua segurança na empresa. Foi preciso muito estudo e adaptação para o RH entender como manter o engajamento e a conexão mesmo no trabalho a distância, e ainda assim existem pontos de melhoria.
Isso sem falar na crise econômica que bateu à porta de muitas empresas provocando demissões em massa para contenção de custos. Esta é mais uma fonte de estresse e ansiedade que pode afetar de forma muito contundente a saúde dos colaboradores.
Todo esse cenário fez com que se criasse um novo padrão de priorização da saúde mental e do bem-estar. E isso leva os colaboradores, muitas vezes, a tomarem decisões que não necessariamente priorizam o trabalho ou a carreira, e sim a sua qualidade de vida.
A Grande Renúncia
Outro movimento que teve impacto na massificação do conceito de Quiet Quitting foi a “grande renúncia”, ou “great resignation”, que levou mais de 48 milhões de estadunidenses a pedirem demissão voluntariamente de seus empregos em 2022. O processo chamou a atenção pois aconteceu durante uma das maiores taxas de desemprego da história do país.
Análises de especialistas em RH mostraram a busca por um maior equilíbrio em suas vidas como o que estava por trás dessa decisão de milhões de pessoas. Salários que não estavam a contento, jornadas de trabalho exaustivas, falta de reconhecimento e valorização, entre tantos outros motivos.
A grande renúncia provocou reflexos no mundo inteiro, tendo essa discussão, inclusive, chegado ao Brasil, mantidas as devidas proporções. Segundo levantamento publicado em agosto de 2022 pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, foram registrados 2,9 milhões de pedidos de demissão entre janeiro e junho do mesmo ano, maior taxa registrada desde 2014.
Vale destacar que, no Brasil, os pedidos de demissão estão muito mais restritos a jovens, com nível de escolaridade alto e que trabalham de forma remota. Isso mostra uma tendência pontual associada a uma mentalidade muito específica desse grupo de pessoas que dizem “não” aos excessos e “sim” a viver com mais liberdade e qualidade de vida.
Quiet Quitting no TikTok
Em paralelo a esses dois cenários que mencionamos anteriormente, o Quiet Quitting ganhou força por meio de um vídeo publicado em julho de 2022 no TikTok de um jovem estadunidense. No conteúdo, Zaid Khan, engenheiro de 24 anos, explica o conceito como “você segue desempenhando suas funções, mas sem seguir a mentalidade de que o trabalho deva ser sua vida”.
O conteúdo é extremamente simples, porém, devido à identificação do tema com centenas de milhares de pessoas, viralizou e tomou proporções mundiais. A partir daí, o assunto Quiet Quitting se tornou trend no TikTok e também nas demais redes sociais, chegando ao conhecimento dos RHs e despertando sua atenção.
O fenômeno joga luz sobre o modo de trabalho das novas gerações, que vêm enxergando cada vez menos a profissão como uma amarra, e sim como uma das partes de sua vida. Assim, RH, queremos explicar para você que o Quiet Quitting não deve ser visto como um problema, e sim como uma decisão individual de cada colaborador.
Novamente reforçamos que isso não significa que você deva deixar de acompanhar o seu time no dia a dia, pois sempre pode haver algo a mais por trás de um comportamento como este. Vamos entender mais a seguir sobre o que está nas mãos do RH dentro desta gestão do capital humano da sua empresa.
Como o RH deve lidar com sinais de Quiet Quitting
Antes de falarmos sobre como lidar, vamos entender o que podem ser esses sinais de que um colaborador está praticando o Quiet Quitting.
Em primeiro lugar, o RH e/ou o líder direto da pessoa podem identificar uma mudança gradual de comportamento. Vamos supor que estejamos falando de um profissional que costumava participar de projetos com outros setores, puxar ações em conjunto e cumprir todos os prazos, mesmo que isso demandasse a realização de horas-extras.
Então, a partir de um determinado momento, você começa a perceber que essa pessoa já não está mais apresentando essas características. Ela pode estar mais focada somente em suas próprias demandas, cumprindo a carga horária de forma exata e até atrasando algumas tarefas por conta disso.
Este pode ser um sinal de Quiet Quitting, e é, com toda certeza, um alerta para o RH. Será que este colaborador está passando por algum desafio em sua vida pessoal que está gerando esse impacto? Pode ele estar insatisfeito com o trabalho e, por conta disso, não se sentir mais motivado? Ou ele está apenas buscando maior equilíbrio sem deixar de cumprir suas funções?
Outros aspectos a serem observados são assiduidade e absenteísmo do colaborador. Ou seja, como está a frequência, presença e cumprimento de horas, ou então os atrasos, ausências injustificadas ou atestados médicos.
E, por último, mais um sinal pode ser a percepção do colaborador sobre o clima organizacional. Pesquisas recorrentes de eNPS ou de humor diário, por exemplo, podem ser ótimos recursos para o RH obter indicadores e acompanhar de perto essa evolução. Por meio deles, é possível identificar como os colaboradores estão se sentindo e tomar decisões pensando no seu bem-estar.
Tecnologia para uma gestão humanizada
Em todos esses cenários que descrevemos, o RH pode contar com o apoio de ferramentas tecnológicas de gestão de bem-estar e presença, por exemplo, para registro e acompanhamento das ocorrências.
É evidente que a tecnologia não deve substituir as relações humanas, que são muito importantes especialmente nesses casos em que um Quiet Quitting pode estar acontecendo. Portanto, não deixe de manter suas rotinas de conversas com o time, conheça e escute os colaboradores para saber quais são as suas necessidades e como a empresa pode ajudar.
Trazendo a tecnologia como uma aliada nesse processo, um sistema completo para gestão de pessoas pode coletar e centralizar dados relacionados a todos os sinais de que falamos anteriormente, veja:
- Registro de ponto para acompanhamento dos horários de entrada e saída;
- Painel para conferência de horas-extras e banco de horas;
- Plataforma para solicitações de abono e de atestados;
- Pesquisa diária de humor do colaborador;
- Entre tantas outras funcionalidades.
Todos esses dados cruzados e apresentados em um único painel para o seu RH podem ajudar a identificar casos possíveis de problemas com Quiet Quitting. Aliando esses indicadores preditivos às suas conversas de rotina com o time, os riscos de você enfrentar desligamentos silenciosos é muito menor.
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